11 de setembro de 2013

Despedida de mim




Rostos passando, mãos inquietas a procura de qualquer coisa para se manterem ocupadas. Sapatos perambulando perdidos, com pressa injustificada. Barulhos distantes entrando pela minha cabeça como se a mesma estivesse oca. Emudecendo os ecos incompreensíveis que teimam em dançar livremente por meus tortuosos pensamentos continuo a caminhada cercada de lágrimas internas que luto bravamente para esconder.

Uma jornada sem passagem paga, do qual o passaporte foi roubado e não há meios de volta ao conforto do conhecido passado, mesmo que este não seja o mais colorido, porém os contornos tortos e cheio de sombras do futuro não permitem nenhum aconchego ou mesmo refúgio dos medos que essas linhas mal delimitadas representam.

Pessoas não falam sobre as dúvidas, apenas aparentam certezas determinantes e o sorriso no rosto causa uma falsa ideia de que medo e alegria não andam juntos. As pessoas andam com pressa e só deixam amostra o que é aparente. A cor da pele, as curvas do corpo, a cor dos olhos, porém esses olhos não são descobertos, não soletram sentimentos e menos ainda acalentam um solitário individuo em busca de socorro.

Vejo no espelho, rugas já nascidas com um rosto forte e doce ao mesmo tempo, mas vejo internamente uma menina acanhada, tímida que não se percebeu mulher apesar das inúmeras vezes em que teve que sê-la.

Em que momento me despedirei de mim? Qual a estação em que a menina desce para que a mulher entre? Talvez nunca saiba, talvez essa estação já tenha passado por mim, talvez ela esteja chegando e seu simples vislumbre maltrate tanto os sentimentos que vão internamente nessa capa que a vida me deu e que a cada dia se transforma em algo desconhecido a mim mesma. 

Alguns sinos vão tocar, uma porta vai se abrir e, eu ali, parada de branco, sinta que a viagem, por mim já conhecida, esteja simplesmente no seu momento final e neste dia deixarei de perambular o mundo com apenas dois pés, pois estes passarão a ser quatro e minha mão não balançará sozinha, mas terá outra sempre em sua companhia. 

Chegadas e partidas. Me preparo para a maior delas, a despedida de mim mesma. 

8 de setembro de 2013

A francesa em: Fulano



No Brasil há pouco mais de 7 meses, essa francesa vive aprontando. Várias pérolas já foram anotadas, mas hoje estou aqui para compartilhar uma que achei especialmente engraçada. 

Desde que chegou em território latino, ela percebeu que todas as pessoas sempre conhecem um fulano e após começar a trabalhar isso ficou ainda mais latente. Em todas as reuniões de professores, sempre alguém comentando que fulano não faz o dever de casa, que fulano não tem frequentado as aulas, que a mãe de fulano não participa da vida escolar do filho, que outro fulano não para de conversar em sala de aula.

Como assim que todos conhecem e tem um aluno chamado fulano, e só ela que não? O incômodo crescia, mas ela não tinha coragem de fazer a pergunta que há muito permanecia percorrendo sua mente. Medo de passar vergonha, insegurança com o idioma talvez, fato que a oportunidade nunca vinha para que essa curiosidade fosse sanada.

Finalmente, um dia, conversando com seu marido em casa, este também professor, ao reclamar de um aluno, soltou o "nome" que há tanto batucava na cabeça da francesinha que não perdeu tempo e perguntou quase que aos gritos: " Amor, por que todos no Brasil conhecem um fulano e só eu que ainda não conheci um se esse é o nome mais comum por aqui?"

O marido da referida, após uma boa porção de gargalhadas, explicou a ela que fulano é um nome para se falar de alguém do qual não sabemos o nome ou então não queremos dizê-lo por algum motivo específico. A história foi tomando rumos cada vez maiores, pois a francesa, ao comentar com a moça do nobre sobrenome, sempre citada em minhas histórias, provocou nesta uma crise de riso incontrolável. 

A bela francesa ainda está aprendendo que além de fulano, existe o beutrano e o cicrâno. Ficamos no fundo aliviados com a pergunta da moça, pois imaginem vocês se ao voltar para a Europa a francesa desse ao filho esse "nome" querendo homenagear o país que a recebeu tão bem.